Elizabeth Cotten – Shake Sugaree [Smithsonian Folkways 2004]
Nascida em 1893, Elizabeth Cotten foi uma autodidacta que aos oito anos aprendeu a tocar guitarra dando escapadelas ao quarto do irmão sempre que ele não estava. Não sendo destra, Cotten lá se desenrascou virando a guitarra ao contrário acabando por desenvolver um estilo muito próprio que só viria a ser descoberto cerca de quarenta anos mais tarde pois aos doze foi obrigada a trabalhar como doméstica e três anos mais tarde já tinha o primeiro filho. Felizmente, o seu patrão apercebeu-se das suas qualidades como guitarrista lançando o seu primeiro álbum cujo single “Freight Train” escrito aos doze anos foi top 5 no Reino Unido. A partir daí, Elizabeth Cotten tornou-se numa das figuras mais importantes da folk. Bob Dylan ou os Grateful Dead fizeram covers, John Fahey roubou-lhe tiques, e malta como Devendra Banhart provam que o espírito e intemporalidade da sua música continuam entre nós. Vale a pena descobrir a música e a vida desta Senhora, uma lição. Fushitsusha – Withdrawe, This Sable Disclosure Ere Devot’d [Victo 1998]
Os Fushitsusha foram uma das bandas mais emocionais e criativas da cena japonesa que tinha como o seu mentor uma figura proeminente e inesquecível: Keiji Haino. Descrever o seu som não é fácil, mas pensem em ruído apaixonado e silêncio derramado. Música contemplativa e assombrosa, som na cauda do “japanoise”.
Este álbum ao vivo cujo título não consigo traduzir é (mais) uma prova da inconvencionalidade e da pureza da Música como forma de arte. É também História, é viajar dos sessenta com os Taj Mahal Travellers e os New Direction Unit (em breve falo de Masayuki Takayanagi), passar pelos Acid Mothers Temple e Ghost até a Zorn e aos Sonic Youth. Se estas palavras vos despertaram algum interesse, sugiro que comecem pelo duplo “Live II” e deixem-se levar… Headdress – Lunes [No Quarter 2009]
Tiago Teixeira escreveu via mail:
“Um projecto americano do texas, com grande flow psicadélico, drone e um cheirinho a blues, faz lembrar Earth. Experimenta, não te arrependes.” Tinha razão, não me arrependi…
Iancu Dumistrescu + Ana-Maria Avram [Edtition Modern 1992]
Falei do Iancu aqui. Esta rapidinha é mesmo só para realçar que a sua esposa Ana-Maria Avram é tão boa quanto Dumistrescu e esta colaboração é uma prova disso. É pena é não se encontrar grande informação na net. Se alguém souber que apite, estou interessado.
Kazuki Tomokawa – Inakamono No Kara Genki [PSF 2009]
A PSF é a melhor editora japonesa, ponto. É verdade que conhecer todo o seu catálogo desde oitentas e tal seria uma aventura vitalícia, mas de vez em quando lá vou eu espreitar uma ou outra coisa só por ter o carimbo PSF. Foi o caso de Kazuki Tomokawa e o seu acid-folk. Interessante álbum do ponto de vista cultural, aprendemos algo com a sua maneira idiossincrática de cantar logo ao primeiro tema. Não é algo que rode muitas vezes, mas talvez venha a pesquisar mais sobre a vida deste senhor.MadLove – White with Foam [Ipecac 2009]
Tenho a Ipecac em muito boa conta, se tenho, mas esta nova banda do ex-Mr.Bungle Trevor Dunn…. Não queria chamar-lhe “banhada” pois a culpa é provavelmente minha, mas se já ouviram p.f. convençam-me a dar-lhes uma nova oportunidade. Malvina Reynolds – Sings the Truth [Columbia 1967]
E se a nossa avó assim de um momento para o outro começasse a compôr belos temas e a gravar discos? Malvina Reynolds, avó de alguém certamente, editou o seu primeiro álbum aos sessenta e picos. Não é que nunca tivesse demonstrado interesse, mas uma vida de “perseguição” (estamos a falar duma família judaica a viver na América e contra a primeira guerra mundial) aliada à época da grande Depressão onde judeus e mulheres dificilmente arranjariam trabalho levou a que a música tenha aparecido como forma de protesto e revolta numa campanha política onde Malvina acabou por tocar um tema seu ao vivo. Foi o início de uma carreira tardia, mas ainda a tempo de deixar a sua marca e temas como “Little Boxes” que todos nós conhecemos da série Weeds. Sparkling Horse & Fennesz – In the Fishtank [In the Fishtank 2009]
Escrever sobre um álbum que ainda não ouvi, aqui vale mesmo tudo. Tenho o Fennesz em grande conta tal como estas edições únicas da In the Fishtank, mas não ando com pica para este tipo de sons e talvez precise de algum entusiasmo. Se já ouviram digam-me coisas.