Blood Fountains – Floods [Utech 2009]
Stephen Kasner é um dos meus designers preferidos, falei dele e do seu livro aqui. Mas essa, apesar de principal, é só uma das suas mutações como artista. Blood Fountains é o seu veículo no que respeita à música e Floods é um álbum a ter em atenção. Mais uma vez, falamos de música conceptual, música que não basta ouvir mas sim tentar ler sobre o conceito e ideias que estão por trás de quem a cria. Stephen é acompanhado nesta sua tradução pintura/quadro-música/ álbum por alguns amigos, mas a presença mais notória é a de Yoshiko Ohara dos Bloody Panda. Cito a press-release:
Floods evoca uma secção extraordinária do tempo e do sentimento. Um monstro congelado de lembranças, esperança e amor, e um “reminder” constante da porta da morte. Estes são fragmentos de assombrações dentro de todos nós. Devemo-nos sempre lembrar. Ah, e não esquecer que o artwork é, obviamente, dele.Isis – Live V [Hydra Head 2009]
Sou o maior fã dos Isis, mas o pior fã de discos ao vivo. Não estranhem se vos disser que não tenho nem faço questão de ter qualquer uma destas edições Live sobretudo porque nenhuma delas transmite uma pontinha sequer do que é um concerto deles. MAS, esta quinta tem algo de especial. O som está lá, muito por culpa de Justin Broadrick, e no fundo no fundo ouvir o Oceanic, da forma mais crua possível, do início ao fim é especial. Ter estado lá é que deve ter sido qualquer coisa… Masayuki Takayanagi & New Direction Unit – Call in Question [PSF 1996]
Não se deixem enganar pela data. A melhor editora japonesa de sempre apenas o lançou em ’96, mas as gravações são de ’70. Eu sei que ainda não vos apresentei (para quem não o conhece, claro), mas Takayanagi é um dos primeiros “noise guitar improvisers” e é tido como uma lenda, um dos mestres. Abandonou-nos em ‘91 mas o seu legado está aí para ser descoberto. Não sei se o Call in Question é a melhor introdução ou não, eu próprio ainda estou a descobrir todo o seu trabalho, mas tenham cuidado. Ainda não ouviram nada como isto porque como isto não há nada. Pode soar como barulho, mas é apenas a tempestade perfeita. Masayuki Takaynagi foi um criador e um explorador, ele quebrou e deu a volta por dentro e por fora da dicotomia do jazz. Imaginem Sonny Sharrock, Fred Frith, e Derek Bailey num só e mesmo assim não chega. E os Wolf Eyes ao lado do mestre soam a canções para adormecer bebés. Chegou a ser vaiado do palco com o arremesso de objectos, não foi compreendido… mas não é isto mesmo que acontece às lendas? O devido reconhecimento e adoração posterior? Não vai ser fácil de digerir, mas tentem e sintam as sinapses a derreter na vossa cabeça. Oxbow – Lover Ungrateful 7′ [Midmarch Records 2008]
Já reparam que ando obcecado pelos gajos, não já? Não? Ainda bem, mas ando. O “Songs for the French” acabou de sair e como ando a ressacar por temas pós Narcotic Story tenho que me virar para o que encontrar. Não conhecia este sete polegadas onde a banda mais fixe do mundo reinterpreta dois dos seus melhores temas em acústico: Stallkicker do An Evil Heat e Frankly Frank do último e já mencionado álbum da banda até ao momento. É para fãs como eu, mas quem não os conhece também pode tentar ou não fossem os “Oxbow presents Love’s Holiday” (só Eugene – voz e Niko – guitarra) uma das melhores cenas que já vi ao vivo. Pelican – What We All Come To Need [Southern Lord 2009]
Numa altura onde hoje dificilmente meteríamos trezentas pessoas no Porto-Rio, continuo a acreditar que esta malta porreira de Chicago é uma das bandas mais interessantes naquilo que se começou a chamar pós-rock e depois passou para o instrumetal. Não se livraram das comparações iniciais com bandas de outros campeonatos, mas ao quarto álbum (vários eps e splits pelo meio) é seguro dizer que os Pelican são os Pelican e o resto é o resto. É evidente que com tanta banda a soar ao mesmo já ninguém se surpreende com este espectro, mas depois lá vem um álbum dos Pelican e, goste-se mais ou menos que os anteriores, é sempre um gozo. Shelving – Imihs [Division 2009]
Têm saudades dos Shora? Eu também. Imihs é composto por dois temas que bem podiam ser dos Shora. Não digo isto só pelo som mas também porque, tal como nos seus compatriotas, se sente que é a música que guia a banda e não o contrário. Curioso é o facto de ambas as bandas serem suíças e ambos os álbuns serem praticamente da mesma altura pois apesar deste debut ter acabado de sair, a verdade é que foi gravado em 2007 numa casa velha nas montanhas de Jura. Fãs de música instrumental (recuso-me a repetir a palavra “pós-rock”), fãs de kraut, prog e afins vão certamente gostar. Por aqui tem sido um dos mais rodados, mas aviso já que os cépticos poderão considerá-lo como o Malval parte 2. Shrinebuilder – Shrinebuilder [Neurot 2009]
Senhores e senhoras, eis o Bicho. Neste momento já não é novidade para ninguém que o Bicho é um supergrupo formado por Scott Kelly (Neurosis), Wino (Saint Vitus), Al Cisneros (Om) e Dale Crover (Melvins). Perante tal formação seria um erro esperar algo único e original. Talvez no futuro, talvez nunca, mas agora não. A expectativa era grande, a consensualidade dos nomes era garantida, mas era só isto que esperava: excelentes músicos com carreiras de respeito que não precisam de provar nada a ninguém a divertirem-se em estúdio fazendo o melhor que sabem. E o melhor que sabem é o melhor dos melhores. É disco de top, apenas nunca ocupará o primeiro lugar. É disco que não surpreende mas que bomba que se farta. Agora é ver isto ao vivo…Sunn O))) – Grimmbunker K7 [1997]
Quando se é fã duma banda a tendência é consumir toda a sua discografi
a. No caso dos Sunn (lição do dia: o O é mudo por isso parem de dizer Sannou), só me faltava esta demo limitada a 20 cópias e… oito minutos de música onde Stephen O’Malley e Greg Anderson começaram a desenhar os primeiros rascunhos do que viria a ser um dos projectos mais interessantes e desafiantes da década. O percurso desde esta k7 até ao Monoliths é uma viagem indescritível, mas ouvir os dois registos seguidos é largar um sorriso e perguntar: como é que foi possível?