Rapidinhas
African Scream Contest – Raw & Psychedelic Afro Sounds from Benin & Togo 70’s [Analog Africa 2008]
Depois da viagem ao oeste africano proporcionada pelo João, comecei por espreitar a compilação recomendada. Este álbum regista apenas o melhor de dois países que fazem fronteira com Gana e Nigéria (falei duma compilação nigeriana aqui), imagine-se os tesouros que devem andar escondidos por esse continente fora. Destaques para Lokonon André & Les Volcans e Orchestre Poly-Rythmo e tenho que dizer que achei um piadão ao Roger Damawuzan. Albert Ayler Trio – Spiritual Unity [ESP 1964]
Só agora conheci um dos responsáveis pelo nascimento do free jazz, Albert Ayler. Até ver o seu nome homenageado no último Joe McPhee desconhecia a sua obra e importância no espectro mais interessante do jazz. Então e o Coltrane? Também também, mas foi Ayler que quebrou todas as regras e o próprio John “inspirou-se” nele nos seus discos pós-64. Albert até começou no R&B, mas foi aqui que juntamente com Gary Peacok e Sunny Murray (pioneiro do free na bateria) fez história. “Nunca antes ou depois disto houve uma agressão tão crua ao jazz”, mencionava um artigo em 1958. Conceptualmente apanhou o melhor da Nova Orleães, musicalmente foi mesmo um pioneiro. Desde o seu afogamento misterioso até aos dias de hoje surgiram músicos de topo capazes de cenas incríveis, mas Ayler deixou mesmo uma marca eterna.
Nas últimas semanas devo-o ter ouvido dezenas e dezenas de vezes, está brilhante. O único defeito é que a bateria está muito atrás, mas quando o comprar vou optar pela versão remasterizada. Ah, até a capa é perfeita… Fushitsusha – Origin’s Hesitation [PSF 2001]
Após a saída de Jun Kosugi e a transformação em duo, Origin’s Hesitation marcou uma nova fase para os Fushitshusha. Keiji Haino passou para a bateria e juntamente com o baixista Ozawa tentaram preencher o vazio deixado pelo terceiro elemento. O resultado foi um álbum mais experimental e despido, muito diferente dos álbuns anteriores. Os fãs, como eu, vão fazer um esforço para “chegar lá” pois sabem do que a banda foi capaz, mas quem não estiver interessado não é mesmo por aqui que deve começar. Tentem este: Live 2Iancu Dumitrescu – Untitled (1983-1991) [Edition Modern 1991]
Mencionei este compositor romeno aqui e repito: as suas obras são das mais interessantes que descobri nos últimos tempos. Este álbum é constituído pelas peças Pierres Sacrées (1991), Harryphonies (alpha) (1985), Grande Ourse (1983), e Harryphonies (epsilon) (1986) que se destacam pela sua ousadia e frontalidade naquilo que é a música contemporânea. A Pierres Sacrées valeu-lhe mesmo a entrada no mundo avant-garde. Não há muito mais que se possa dizer sobre este mestre, é investigar. Rodrigo Amado, Kent Kessler, Paal Nilssen-Love – The Abstract Truth [European Echoes 2009]
Segundo álbum deste trio liderado pelo lisboeta Rodrigo Amado (sax tenor e barítono), Kessler no contrabaixo, e Love inconfundível na bateria (dos melhores da actualidade). Inspirado, em parte, no pintor surrealista De Chirico, o sucessor de “Teatro” é um álbum improvisado mas com lógica, é um álbum onde o saxofone nos conta todas as histórias. Aquilo que mais aprecio no Free é a sua instabilidade, a sua improvisação, a incerteza do desconhecido e do que vem a seguir. Este “The Abstract Truth” tem tudo isso e onde lhe falta pulmão (elogio) ganha em harmonia.