Rapidinhas…
Ascend – Ample Fire Within [Southern Lord 2008]
A malta que gira à volta dos Sunn O))) edita tantos discos porreiros que é uma coisa descomunal. Dos próprios Sunn até aos Asva, passando por Guapo, KTL, Grave Temple, Teeth of Lions Rule the Divine, Ginnungagap e ainda bandas do passado como Khanate, Burning Witch ou Goatsnake, a quantidade por aqui é mesmo sinónimo de qualidade. Desta vez, Greg Anderson (O Lord da Southern) juntou-se a um antigo companheiro de tour: Gentry Densley (Iceburn, Eagle Twin). O resultado é M A R A V I L H O S O! Tal como Dalhquist com Asva, os amigos foram muito importantes para a versão final. São eles Steve-fundamental-em-cada-álbum-que-entra-Moore (Earth, Zombie), Andy Patterson, Bubba Dupree (Void) e Kim Thayil (Soundgarden). O álbum foi misturado pelo enorme Randall Dunn (quem mais podia ser?), masterizado por Mell Dettmer e foi louvado por um desconstrutivismo impressionante. Mais metal e menos drone que SunnO))) (serve sempre de referência) mas também mais jazzístico, este “Ample Fire Within” explora territórios experimentais mais atmosféricos, escuros e mágicos. A voz de Gentry por vezes lembra um Tom Waits, mas é no conjunto de todas as forças que este disco vale. E muito!! É difícil de descrever. Claro que é pesado e há elementos doom no disco, mas começa a ser complicado e injusto colocar tudo no mesmo saco. Não é assim tão facilmente interpretável, não pode ser. Bandas como esta (e nem lhe quero chamar projecto paralelo pois acredito na sua continuidade) têm que ombrear com uns Corrupted o próximo passo. Também não consigo deixar de os associar com os Asva. Primeiro porque ambos os discos são dos meus preferidos deste ano, mas sobretudo porque não duvido que se transformem, daqui a uns anos, em clássicos do género. Monolítico de som e criatividade. Impecável!
Ps: Ainda só conheço a versão promo, ou seja, apenas cinco dos seis temas que compõem este disco.
Fear Falls Burning – Frenzy of the Absolute [Conspiracy 2008]
Dirk Serries, o cérebro por detrás de Fear Falls Burning, regressa com aquele que é, para mim, o melhor álbum da sua carreira. Não estou a contar com a fantástica caixa de cinco LPs – esse é para mostrar aos netos como um conto de fadas – mas talvez tenha influenciado na direcção que tomou agora com “Frenzy of the Absolute”. Acompanhado pelas batidas repetitivas de Magnus Lindberg (Cult of Luna) e Tim Bertilsson (Switchblade), Dirk mescla-as nas suas camadas paisagísticas, ora com longos trechos fantasmagóricos ora com sussurros distorcidos. Mesmo sabendo que este trabalho levou praticamente um ano a ser concluído, tudo me parece espontâneo como se tivesse sido gravado sem ensaios e de uma vez só. E terá sido um acaso ou será para continuar? As camadas de riffs parecem respirar melhor, parecem mais livres como se tudo fosse um quebrar de barreiras. A verdade é que ao fim deste três anos, Fear Falls Burning tem-se manifestado como um dos nomes mais importantes do drone. Com ele não há limites, já o provou, e o melhor está sempre para vir…
Jacob Bannon – The Blood of Thine Enemies 7” [Deathwish 2008]
Jacob Bannon, a voz dos magníficos Converge, prepara-se para editar lá para o fim do ano, através da sua editora Deathwish, o seu primeiro álbum a solo “Wear Your Wounds”. Mas, antes disso e talvez para nos ambientar, decidiu lançar este 7 polegadas que consiste num único tema de seis minutos, minimalista e a passo de funeral, completamente diferente daquilo que já o vimos fazer. Verdade seja dita: não aquece nem arrefece mas isto porque neste momento já só queremos vê-lo ao vivo no próximo 19 de Julho.
Otesanek-Loss-Orhtodox-Mournful Congregation – Four Burials Split [Battle Kommand 2008]
Foi com muito agrado que recebi este split na caixa de correio. Depois de rodar várias vezes, não o considero essencial mas há coisas que têm de ser ditas:
Otesanek, para quem não conhece, é uma banda muito ao estilo de Khanate. A diferença é que os Otesanek apesar de cumprirem nunca arrepiaram e também não é desta.
Quantos aos Loss e aos experientes Mournful Congregation, não sou suficientemente conhecedor para opinar. Só agora as conheci e um tema nunca é suficiente, mas ambas navegam pelo mesmo território do doom e funeral doom, down tempo, aquela melancolia típica embrulhada em riffs lentos e depressivos.
Já o tema dos nossos amigos é o mais interessante e atractivo do álbum. O seu som está cada vez mais maturo e genuíno e “Heritage” mostra-nos o que é um som à lá Orthodox. Excelente excelente excelente. No entanto, onde ganha na criatividade perde na qualidade de gravação. A própria banda já admitiu que vai regravar o tema e talvez incluí-la num futuro álbum. Posto isto, resta dizer que é um split único do género e sim, recomenda-se.
Pentemple – O))) Presents [Southern Lord 2008]
Em Maio de 2007, os ENORMES SunnO))) foram até ao Pacífico para uma tour no Japão e na Austrália. O line-up consistia em O’Malley, Anderson, Oren Ambarchi e Attila Csihar, mas à chegada a Melbourne tiveram a feliz ideia de convidar Sin Nanna AKA Striborg – que se encontra actualmente na Tasmânia – para um concerto baseado no improviso. Pentemple é o resultado dessa noite. E que noite!!!
Já todos sabemos que não há um concerto igual de Sunn, todos eles são experiências e rituais diferentes, mas a presença de Sin Nanna na bateria foi a primeira vez que tal aconteceu e ainda bem que foi registado. Posteriormente, Oren editou, sequenciou e revitalizou a equalização para o tornar o mais brutal possível. Ouçam-no que estas coisas não são para se comentar mas sim para se ouvir… e sentir.
01 – Pazuzu I (22:33)
02 – Pazuzu II (20:10)
Steve Von Till – A Grave is A Grim Horse – [Neurot 2008]
Steve dispensa apresentações, é um dos nossos pais musicais desde que começamos a ouvir música a sério. Nunca desilude. Impulsionado pelos tons da sua guitarra, a sua vontade de desabafar e a sua voz cheia de alma, Von Till regressa ao seu mundo sombrio, mais folk e acústico do que os seus Neurosis, mas igualmente pesado. Aliás, apesar da sua natureza acústica pode ser doloroso ouvir um álbum destes: o vozeirão (não vos lembra Mark Lanegan?) de Steve num formato tão nu e cru a recitar as suas letras feridas é como um murro no estômago. Um murro profundo…
Está longe de ser um substituto para os Neurosis mas mais longe está de ser uma nota de roda pé. Tirando o facto de o considerar um pouco longo para o ouvir todo de uma vez, o álbum é perfeito. É um álbum cheio de vida, perto da morte.
Ps: A cover de Nick Drake – Clothes of Sand – é arrepiante.
Who has dressed you in strange clothes of sand
To see the earth through painted eyes