Sonhar acordado…ou apenas adormecer
Graças ao um preço convidativo, 4ª Feira passada pareceu-me um bom dia para ficar a conhecer a música de um artista sobre o qual já muito tinha lido. Assim, desloquei-me até ao Teatro Maria Matos para assistir ao concerto de Jon Hassell & Maarifa Street, pronto para conhecer o que significa, em termos sonoros, o tal Quarto Mundo, que tanto impressionou, entre outros, Brian Eno.
Numa sala repleta de gente, barbas, calvície e poucas raparigas, Hassell e três companheiros tocaram durante cerca de 90 minutos. E o mínimo – e máximo, depende do ponto de vista – que se pode dizer é que foi uma actuação repleta de beleza e subtileza, mas também extremamente irregular.
Explico-me: o saxofone de Hassell emite um som belíssimo, que poucas ou nenhumas vezes terei ouvido. Evade a todo o momento a tentativa de o arrumar numa gaveta geográfica, enquanto provoca o suspiro e o desejo que não se cale. O problema é que se cala demasiadas vezes, mesmo para uma música que se quer tão delicada. E se o violinista argelino consegue quase igualar o seu mestre na capacidade evocativa do seu som, já o tocador de sampler e o guitarrista noruegueses (desculpem ter-me esquecido dos nomes) resvalam algumas vezes para um ambientalismo pouco excitante.
Se é verdade que a primeira visita de Hassell a Portugal termina com saldo positivo, também não é menos verdade que sinto alguma coisa ficou por explorar. Que aquilo tem tanto mais para oferecer. Ninguém espera free-jazz. Espera-se apenas que não se repouse à sombra dos “louros”, e isso nem sempre aconteceu.