Sons da Semana: Moritz von Oswald Trio, Rancid, Islaja, Kevin Ayers, John Cale, Brian Eno e Nico

Os últimos dias têm sido preenchidos com muita música, mesmo nas horas em que escasseia o tempo para escrever algo sobre as mesmas.

moritz
Uma das rodelas que merece referência é Live In New York (2010, Honest Jon’s) de Moritz von Oswald Trio. Composições de Techno Minimalista esticadas ao ponto de nos induzir num quase-transe. Quando ouço esta música lembro-me sempre do clássico de Manuel Göttsching, E2-E4 (1984), pela escolha dos sons que se vão enquadrando numa matriz de ritmos e repetições. Aqui tentam-se criar códigos através de sintetizadores modulares, ou alterando a cadência rítmica dos longos temas. Em Live In New York não falta audácia e talento para improvisar sem sobrecarregar os elementos essenciais (ritmo) – e não é difícil perceber algumas linhas que foram entretanto codificadas como Dub ou até Krautrock. Um concerto que deve ter sido uma experiência transcendente.

 

rancid
Tenho ouvido ainda … And Out Come The Wolves (1995) dos Rancid. Um clássico Punk Rock editado pela Epitaph Records, que mostra bem a mestria deste grupo em conseguir escrever temas que se agarram ao ouvido pelos seus refrões e melodias, ao mesmo tempo que se mantêm estoicamente os elementos Punk da velha guarda. Aqui percebe-se que se estudaram os melhores, como os Ramones, Clash, o estilo Ska-Rock, a escola Hardcore Americana… inclusive a capa do disco serve de homenagem aos Minor Threat. Apesar de ser um bocado longo para a eficácia do género, reúne músicas que resistem em envelhecer.

 

islaja
A música de Islaja (Merja Kokkonen, que também toca noutros grupos como Avarus e Kemialliset Ystävät) revela-se estranha para que se possa entranhar, mas possui uma beleza considerável. Quando um disco como Ulual yyy (2007) é arrumado na prateleira da música Folk, é apenas por uma questão quase de serenidade e ambientes sonoros, porque encontramos por aqui muita audácia em experimentar (inclusive electricidade), transformando a simplicidade num exemplo de música surrealista. A voz de Merja encandeia-nos os sentidos, por vezes recuperando para si os exorcismos que se podem ouvir na música de Nico ou ler nos livros de Virginia Woolf,  enquanto vamos entrando por uma floresta em que a solidão gélida é apenas uma ilusão manipulada por música psicadélica, num duelo entre o conforto e o desconforto, entre a melodia e a dissonância, por entre uma catadupa de pequenos sons… rapidamente vamos percebendo que este tipo de trabalhos exige-nos tempo e atenção, mostrando sempre mais a cada nova audição.

 

kevin_aeyrs
Para terminar a selecção de discos que tenho devorado, merece ainda referência June 1, 1974 (Island) atribuído às “almas” de Kevin Ayers, John Cale, Brian Eno e Nico, mas que perpetua ainda outros nomes incontornáveis que participaram no espectáculo – entre eles, Mike Oldfield, Robert Wyatt (que tinha ficado paralisado da cintura para baixo um ano antes), entre outros. Como seria de imaginar, reuniu-se a arena perfeita para um concerto magnífico. Música Avant Garde arrancada do corpo de excelentes músicos, seja Brian Eno (Roxy Music) e Kevin Ayers (membro fundador dos Soft Machine) a levantarem o esqueleto de algum Glam Rock, ou indo em direcção de delírios psicadélicos de requintada qualidade. De seguida John Cale atira-se a  ‘Heartbreak Hotel’ do Elvis, assim como a Nico atira-se a ‘The End’ dos Doors e ambos (ex-Velvet Underground) trazem consigo algum desconforto enquanto são desconstruídas melodias e andamentos (uma gravação “refinada” da “The End” pode ser também ouvida no disco Desertshore da Nico). Kevin Ayers agarra ainda algumas das suas músicas, seja num registo Folk ou Blues, sempre acompanhado por uma banda extremamente coesa.  Apesar de ser um clássico, não reúne tudo o que foi tocado neste concerto, para isso podem ser facilmente encontradas bootlegs.