Sons da Semana: The Sound of Philadelphia; Annette Peacock; Kath Bloom and Loren Mazzacane; Black Lips; Candeia
The Sound of Philadelphia – Funk, Soul & the Roots of Disco 1965-73 – Philadelphia Roots Volume 2 (2004, Soul Jazz)
Excelente compilação da Soul Jazz que reúne alguns dos melhores exemplares do chamado “Philly Sound” do início dos anos 70. Praticamente todas as músicas são excelentes, cheias de ritmos Funk, groove que apela à dança (ou passos em direcção à Disco), Soul, secções instrumentais coesas e arranjos com um corte fino e charmoso como já é raro encontrar. Dado o facto de alguns destes temas serem hoje objecto de afortunados coleccionadores, torna-se extremamente relevante o trabalho desenvolvido pela editora.
Annette Peacock – I’m The One (1972 RCA)
Lançado originalmente em 72 este é um dos discos que durante muito tempo me fascinou (ainda o faz), a par de outros caldeirões sonoros como o Gris-Gris (1968) do Dr. John. O primeiro elemento que se destaca é a voz de Annette, uma das mais versáteis e “loucas” que já ouvi, podendo arranhar devaneios Blues à Janis Joplin ou deixar-se levar por melodias “felinas” ao jeito da Gal Costa na altura dos anos Tropicalistas. Outra das coisas fascinantes e que podem ser ouvidas quase todas só no tema que dá o nome ao disco, tem a ver com o facto de se poder sentir uma liberdade criativa que vai da música Avant-Garde ao Jazz livre ou até música electrónica. A acompanhar Annette e as suas explorações psicadélicas com a voz (por vezes alterada por efeitos) ou através do uso que esta dá a sintetizadores Moog ou ao vibrafone eléctrico, junta-se uma lista de músicos (instrumentos) bastante interessante, desde o percursionista Airto Moreira até Paul Bley entre outros. A música da Annette reflecte o surrealismo de um dos seus comparsas da vida, Salvador Dalí, num caldeirão cheio de groove. Um clássico que ainda hoje deixa algumas interrogações (ou inquietações) sobre os sentidos da exploração sonora atingida na altura.
Kath Bloom and Loren Mazzacane – Restless Faithful Desperate (1983, St. Joan)
Loren MazzaCane Connors é um dos guitarristas mais notáveis dos últimos anos, tendo colaborado com nomes como Christina Carter, Thurston Moore ou Bill Orcutt entre muitos outros. Aqui o casamento aconteceu em 1983, feito em tons outonais, com a guitarra acústica a servir de novelo Blues/Folk para o tear doce e melancólico da voz de Kath Bloom. Aqui Loren vai explorando a guitarra seja em slides cheios de sentimento, alguns dedilhados ou leves explorações que não quebram o embalo de Kath, cuja voz/registo pode ser comparado ao de Josephine Foster ou Sibylle Baier. Um disco bonito, sentido e intemporal.
Black Lips – Los Valientes Del Mondo Nuevo (2011, In the Red Records)
Os Black Lips para além de serem um dos nomes de destaque do Garage Rock praticamente desde que começaram nestas lides, são também conhecidos pelos seus malabarismos ao vivo. Este disco foi gravado em Tijuana no México, talvez uma cidade apropriada para a anarquia de melodias e guitarradas que juntamente com alguma distorção Lo-fi, permitem agitar corpos em doses consideráveis. Ouvem-se os tumultos do público, quase se adivinha o estado ébrio das coisas e tudo para comungar perante o maldito Rock n’ Roll. Um registo que capta o grupo a arriscar, a fazer barulho, a tocar Punk sem baixar o Swing da cintura.
Candeia – Axé! Gente Boa do Samba (1978, Atlantic)
Trabalho essencial para quem aprecia a batucada das coisas da vida sob a forma de Samba. Candeia conta as suas histórias, lamentos, encontros e desencontros, mas opta por o fazer puxando pelo balanço dos ritmos sambistas e pelas cordas do pai e filho, violão e cavaquinho. Este disco arruma-se ao lado de outros mestres como Cartola, Adoniran Barbosa ou até Zeca Pagodinho. Um manual de felicidade, música para o povo e para as coisas simples que realmente “alimentam” a nossa vida.
Boa semana!