Teiwaz – Total War (NON)
«Do you want total war
Turn man into a beast once more?
Do you want to rise and kill
To show the world an iron will?
Do you want total war Throw out Christ and bring back Thor?
Do you want total war?
Do you want total war?
Do you want to stand and fight
To rip asunder this pallid night?
To smite your foes that they might die
To splatter blood across the sky?(…)»
No outro dia, no concerto de Wolfskin, Plateau Omega e Terra Oca (que foram uns excelentes substitutos de última hora para cobrir a falha do Stalker Vitki) estava o meu amiguinho João da Extremocidente com a sua habitual mini-banca de vinis, cd’s e general goodiness (para quem gosta de industrial, noise e afins pelo menos) e reparei que, entre muitas outras coisas, tinha o “Receive the Flame” dos NON, do qual eu tenho (tinha) a edição em cd.
Feliz acaso do destino, ele tinha dois vinis mas não tinha a edição em cd e propôs-me a troca que prontamente aceitei: trocar o meu cd por um dos vinis (!).
Este álbum, não sendo dos melhores de NON para mim, é um excelente registo de NON num período muito interessante em que o Boyd Rice colaborava com o Tony Wakeford (Sol Invictus), com a Rose McDowall (Strawberry Switchblade, Current 93) e com o Michael Moynihan (Coup de Grâce e Blood Axis), sendo as oito primeiras faixas uma gravação do concerto em Osaka.
Mau som, boas malhas.
Este album tem uma interpretação ao vivo do que se pode chamar o greatest hit dos NON, o Total War.
É um greatest hit se calhar pelos motivos errados – pela sua conotação com o ínfame discurso da Totaler Krieg proferido pelo Goebbels, e porque a sua letra, de forte inspiração “Might is Right“, rapidamente dá azo a interpretações mais ou menos cavernícolas.
Apesar de tudo, a música remete para um estado de convulsão e querela que realmente ilustra bem a runa do dia.
A runa Teiwaz (Tyr) é a do deus com o mesmo nome; este deus é uma figura interessante da mitologia nórdica na medida em que a sua etimologia o apresenta como um dos originais (ou iniciais) deuses do céu dos primitivos (ver o indo-europeu deywos para “ser celeste” que dá origem ao “deus” latino ou ao “devas” do sânscrito) apesar de no panteão nórdico, pelo menos desde que a literatura fala dele, este tenha sido relegado para um papel secundário ocupando Odhin o seu lugar como chefão da malta e, subsequentemente da guerra.
Ele é o deus da guerra de facto.
Em particular dos duelos, que eram uma práctica comum na antiguidade, usualmente entre os reis, os chefes ou os campeões da tribo, encetados antes de começar a grande batalha que envolvia os demais.
Na Edda temos um episódio que relata como os deuses queriam aprisionar o lobo Fenriz por este andar a causar estragar e a semear o caos um pouco por todo o lado; agora, sendo o danado lupino um filho do deus Loki (e mais tarde, um key player do Raganarokr) a tarefa não se afigurou fácil na medida em que este tinha uma desconfiança natural (e fundada) relativamente aos Ases.
Estes asseguram-lhe que só lhe querem colocar um adorno (na verdade, uma espécie de trela mágica feita por duendes que o aprisionaria para todo o sempre) mas o bicho não vai nisso e é nessa altura que Tyr, demonstrando o seu grande sentido de nobreza, abnegação e justiça, afiança que ninguém lhe vai fazer mal e, como garantia, coloca a sua mão direita na boca da fera.
Claro está, ficou sem ela assim que a criatura se apercebeu que tinha sido enganada.
Este gesto terá sido determinante (digo eu) para que Tyr tenha igualmente assumido o carácter de deus da justiça, sendo que era a ele que se recorria em caso de dificuldade/disputa legal e era no seu dia (a terça-feira – tuesday=tiu day) que se realizavam as assembleias (things ou althings).
Gosto particularmente desta runa, de tal modo que é uma das que tenho tatuadas na minha pessoa.
Enquanto practicante de Kendo, o Bushido é uma coisa muito importante para mim e esta runa representa-o lindamente de um modo muito sintético.
As sete virtudes do Bushido (a rectidão, a coragem, a benevolência, o respeito, a honestidade, a honra e a lealdade) parecem ter sido desenvolvidas a pensar neste deus em particular.
Ou então, em sociedades guerreiras, é mesmo importante desenvolver códigos de conduta assentes em honra e lealdade senão é o caos 😉
Para quem não conhece NON: tentem ouvir a “Embers” para algo mais clássico, ou o recente “Children of the Black Sun“.