Thurisaz – Reign I Forever (Blood Axis)
Thurs era o nome que era dado aos gigantes, os inimigos dos Deuses e da Humanidade (lembram-se da uruz e daquela coisa de fazer o Mundo do corpo do gigante…).
Estes representam as forças telúricas profundas, a acção pura e a vontade instintiva.
Em 1989 o então jovem Michael Moynihan, enrijecido pela violência sonora inspirada por Throbbing Gristle, SPK e Whitehouse do seu projecto Coup de Grâce, bem como pela sua própria vida após a residência de dois anos com os belgas Club Moral, dá por si no mítico concerto de NON em Osaka e a colaborar no “Music, Martinis, and Misanthropy” do Boyd Rice.
O rapaz já não era novo nestas andanças por essa altura, e para além do seu Coup de Grâce, também tinha dado uns toques com os Sleep Chamber lá na Boston natal, e, tendo passado uma boa parte da sua vida entretido a fazer osciladores e pedais de efeitos caseiros (quando não estava a fazer fotcópias de mail art chocante) estava mais do que pronto, encontrava-se num limiar.
O mítico concerto de Osaka. Foi poderoso como se espera de NON desses tempos; cheio de acção pura e vontade instintiva 🙂
É este o ano (1989) que vê a formação dos Blood Axis.
Esta quebra formal – de power electronics para uma abordagem mais neo-clássica – ilustra muito bem um dos conceitos da runa Thurisaz: um veículo para quebrar os obstáculos que surgem, de modo a que novos começos possam ter lugar.
Os Coup de Grâce foram a força bruta necessária para que os Blood Axis surgissem.
Como símbolo dos gigantes, é também um de Thor, o eterno guardião que com o seu martelo Mjollnir defende a Humanidade e os Deuses.
O tão infame logotipo dos Blood Axis é uma cruz formada por quatro Mjollnirs, o que não deixa de ser significativo.
Thor é o derradeiro obstáculo para os gigantes. Estes almejam destruir os Deuses e a Humanidade mas entre eles e estes, está Thor com o seu Mjollnir.
A runa thurisaz é o gigante e a morte do gigante.
“Reign I Forever”, escrito por Henry Wadsworth Longfellow, e uma das músicas do LP de estreia “The Gospel of Inhumanity” é a música escolhida para a thurisaz.
Uma bela samplada de Prokofiev, um baixo tocado com máquina de barbear – juro que é uma máquina de barbear e não um ebow – e a cavernosidade do Michael em toda a sua glória dão a esta música uma carga dramática à qual não se fica indiferente.
“(…)Force rules the world still
Has ruled it, shall rule it;
Meekness is weakness
Strength is triumphant
Over the whole earth
Still is it Thor’s-Day!(…)”
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Os Blood Axis estão de volta – por falar neles – com um album que vai sair no inverno chamado Born Again e, entretanto, com um 7″ split de Blood Axis e Andrew King que deve estar a começar a ser distribuido por aí – a data de lançamento era Janeiro.
Cantadas em “mittelhochdeutsch”, um antepassado do alemão, estas canções dos séculos XIV e XV dificilmente irão agradar àqueles fãs que se habituaram à postura mais marcial dos Blood Axis.
Vi-os no início do ano passado com os Sangre Cavallum e achei grande malha.
Fazia todo o sentido tocarem juntos, levando em consideração o repertório de folk tradicional que se ouviu.