Não sei nadar.
Não tenho bicicleta.
Não gosto de ginásios.
Não me entendo com a bola.

Condicionado por ineptitudes desportivas e mesquinhices pessoais, correr é o único exercício que considero prático e útil no momento.
A princípio foi difícil, violento até, ganhava contornos quase punitivos. A tempo, o corpo cedeu e habituou-se, tornando o exercício mais prazeroso. A música que me acompanha seguiu o mesmo caminho. Começou por ser agressiva, cavalar, dando lugar com o tempo a incursões mais lentas, com melodias definidas e suaves. Preciso de algo que se aproxime do meu ritmo de corrida e ajude a respirar, ao invés de promover uma catarse rápida que me sufoca ao fim de pouco tempo.

True Widow – As High As the Highest Heavens and From the Center to the Circumference of the Earth

Eis o que me tem acompanhado nestas últimas semanas sempre que saio para correr. Apesar de ter uma sonoridade bastante acessível, não é um trabalho de imediata digestão. Vai-se entranhando com as audições, as melodias evidenciam-se lentamente em reduzidas progressões. Vozes etéreas acompanham um desfilar de riffs lânguidos e minimalistas, sendo que a secção rítmica não foge a este moldes. Existe uma preocupação estética palpável, cinematográfica até, que transparece na música deste trio texano.
O som torna-se por vezes reminiscente dos últimos trabalhos dos Earth, com uma forte componente de dark americana a sobressair por entre as incursões mais melódicas, quase dignas duma música de Grouper.

Existe uma preocupação em deixar o som fluir, sem preencher o ar na sua totalidade, deixando espaço para respirar. Música para preencher os sentidos, sem os dominar.