Um foguetão chamado DOMO
Na passada sexta-feira fiz-me à estrada (mais um amigo) em direcção a Santa María del Páramo (León, Espanha). Domo (uma banda de Alicante, Espanha) foi o incentivo que nos moveu a fazer uma viagem de quase 4 horas até uma zona remota do norte de Espanha (com o extra de ainda haver uma segunda banda, também de Alicante, chamada The Sand Collector). Debaixo de um sol abrasador, seguimos uma rota económica (aconselhada pela Michellin). Já em Espanha, cruzámos estradas inóspitas e desertas, com alguns desvios involuntários que nos afastaram da rota previamente traçada (mas nada que umas paragens e indicações sábias não resolveram). De destacar a passagem (atribulada e evitável) pelo centro de La Bañeza, onde nos desorientámos por completo. E mesmo as pessoas que abordámos nas ruas da cidade, mostraram-se manifestamente inseguras nas indicações que nos deram para chegarmos a Santa María del Páramo (apesar da proximidade entre ambas as localidades). Mas depois de coleccionadas algumas informações, eis que chegámos a uma rotunda onde avistámos a tão desejada placa para o nosso destino. Suspirámos de alívio, aumentámos o volume da música e acelerámos até Santa María del Páramo. O sol vermelho desvanecia-se no horizonte. Toda a vila estava cercada por extensos campos agrícolas. As ruas estavam despovoadas e caladas. Sabíamos apenas o nome do bar onde os Domo actuavam, e por isso, decidimos estacionar o carro e começar a procurar a localização exacta da famosa Taberna de Belfast. Mas mal saímos do carro, ouvimos uma bateria bem próxima dali (estávamos a uns 50 metros do local do concerto). Como ainda faltavam algumas horas para o início do concerto, bebemos uns valentes tragos de vinho verde e fomos conhecer as proximidades. Aproveitámos e passámos pela Taberna de Belfast (da qual ficámos fãs incondicionais). Quando entrámos, ainda maravilhados pelos diversos adereços que compunham o interior, fomos surpreendidos pela barwoman que de imediato me reconheceu (“Nuno?!”) e posteriormente se apressou a brindar-nos com umas saborosas tostas de presunto e cerveja bem gelada.
Não conheci as expectativas dos donos da casa, mas a verdade é que o espaço esteve (muito) longe de encher. Quando os The Sand Collector avançaram até ao palco, estavam presentes umas 8 ou 9 pessoas. Às costas da voz rasgada do vocalista, a banda lançou-se numa entusiasmante cavalgada pelas planícies do Stoner-Metal. Garrafas de cerveja ao alto e a aprovação unânime da parte dos peregrinos musicais ali presentes. No final do concerto, ainda fui felicitar o vocalista, que ficou pasmado com a nossa incursão desde Portugal. Mais duas cervejas por conta da casa, e os Domo começam a sua jornada transcendental à velocidade da luz. Depois de uma memorável introdução ao som do Gongo (a remeter os presentes para o concerto épico de Pink Floyd em Pompeii), o Rickenbacker começou a polinizar o viajante tema “Nadi”. No final do primeiro tema, já todos nós estávamos Petrificados. Seguiu-se “Prana”, um autêntico cometa espacial que nos fez levitar a uma velocidade supersónica. Quando a guitarra começou o tão lisérgico solo, cerrei os olhos e deixei que ela conduzisse todos os meus movimentos corporais. Toda a Taberna Belfast estava em transe. A recta final desse tema foi de tal forma emotiva, que o baterista, numa pancada mais forte e seca, rasgou a pele da tarola (de imediato substituída pela tarola dos The Sand Collector). “Asura” estava aí para saudar todos os presentes com o imponente e dançante som do Rickenbacker, um solo endiabrado de bateria, uma guitarra delirante e uns cavernosos e soturnos vocais (a lembrar Al Cisneros). “Yamantaka” catapultou-nos para um universo mais obscuro e pesado. Seguiu-se toda uma descarga excessiva de Stoner/Space/Psychedelic Rock, até se despedirem dos presentes debaixo de um prolongado aplauso e de gritos de incentivo a continuarem em palco. Mas apesar de terem tocado todo o seu leque musical, nada os impediu de regressarem com uma pujante interpretação do tema “Forever my Queen” dos Pentagram, que apanhou todos de surpresa. Foi uma bela forma de terminar um concerto (que só por si roçou a fronteira da perfeição).
No final, tempo ainda para mais umas palavras com os intervenientes (desta feita com o baterista de Domo), para um “adeus” ao vocalista da 1ª banda, e para comprarmos o disco e a t-shirt de Domo. Saí da Taberna de Belfast com a convicção de que havia feito uma das mais longas e estimulantes viagens espirituais da minha vida (cujo regresso vai ficar adiado por muito tempo).