Vai um Bailey às quatro da manhã?

Há quem acorde com vontade de ir à casa de banho, com fome ou com sede. Eu às vezes acordo com vontade de ouvir música. Esta noite eram quatro da manhã quando acordei para pôr o Standards do falecido Bailey a tocar.

Derek Bailey foi um músico inglês extraordinário que tinha uma abordagem única perante a guitarra. Podemo-lo situar algures entre o improv e o avant-garde, era aliás uma das figuras mais interessantes da improvisação. Colaborou com dezenas e dezenas de músicos (de Tony Braxton a Evan Parker passando por Dave Holland, David Sylvian ou John Zorn) lançou um livro, editou inúmeros discos, e tinha uma editora: a Incus. No passado dia 25 fez quatro anos que a sua guitarra se calou, mas o seu legado (musica e tecnicamente falando) é um tesouro para todos nós. Standards, o álbum em questão, é uma viagem jazzística conduzida pelo estilo inconfundível, explorador e enigmático de Derek. Os seus dedilhados são imprevisíveis, podemos ouvi-los várias vezes que a sensação do desconhecido é sempre a mesma. Sentimo-lo a respirar e a inovar entre os acordes, sentimos a “luta” entre o som e o silêncio (esteticamente as comparações com John Cage são correctas) atravessando o espaço ao longo do tempo.

Este Standards e o Ballads (ambos editados pela Tzadik) são, para mim, as suas melhores obras. Reza a lenda que enquanto gravava o álbum em Nova Iorque e não satisfeito com o seu resultado decidiu ir até Londres. O primeiro é o Standards e o segundo é o Ballads, não sabemos é se Derek alguma vez tinha intenção de o editar…

Passou por Portugal, alguém teve o prazer de o ver?

Derek Bailey (1930-2005)