Valentine Bloody Valentine (ou como foder a paciência de mil fãs de Offspring a sangue frio)
Recordo-me de um filme de surf em que dois tipos do Canadá caminhavam descalços durante quilómetros de terreno acidentado para chegar a um “pico” com ondas aceitáveis. Por vezes há que peregrinar para encontrar maná musical no lugar mais improvável.
Só um equívoco explica a presença dos My Bloody Valentine no festival Rock One ocorrido em Portimão. Depois de ter recebido a passagem da boys-band Linkin Park (nem Rick Rubin os salva) e do elefante nostálgico Waterboys, o festival ensanduichou os My Bloody Valentine entre os Tara Perdida e os Offspring talvez porque alguém achou graça ao nome (“Isto deve ser um emo porreiro…” alguém deve ter dito) da banda irlandesa. Mesmo a partir de um contexto bizarro, os My Bloody Valentine partiram toda a porcelana da melhor dinastia e conjuntos da Vista Alegre armazenados nas prateleiras do Autódromo Internacional do Algarve. Foram gigantes no alinhamento escolhido e a prova vida de que quem sabe nunca esquece.
E qual é a reacção reservada pelo público para uma lição em termos de rock edificado como Muralha da China? Manguitos dirigidos à banda e uma quantidade de lenços brancos que nem o Peseiro viu nos seus piores momentos em Alvalade. Sem pestanejar, os My Bloody Valentine terminaram com uma vaga incrível de ruído a rasgar um mar de pilas salientes entre lençóis brancos. Sem qualquer compaixão para com os ouvidos do inimigo. Um épico surreal e o maior sorriso que este ano conheceu num concerto.