War Worms Psycho Pigs (UXB)
Algumas das melhores combinações surgem por acidente. Tenho um gosto especial por jogar Poker ao som de Black Sabbath (é bonito quando o river coincide com um riffão Iommi), mas, onde jogo habitualmente, há quem prefira ficar entretido com outros jogos no computador que funciona como aparelhagem (com um amplificador vintage). É aqui que entra em cena o “Worms”, variante bélica do velhinho “Lemmings” e rei entre os jogos que deixam um grupo de amigos à gargalhada (nada diverte mais do que minhocas em guerra com um arsenal capaz de destruir um jardim zoológico inteiro). Por acidente, alguém começou a jogar o “Worms” enquanto a discografia de Black Sabbath desfilava em shuffle. A combinação entre os dois elementos não surte especial efeito enquanto passa a “Supertzar” ou a incrível balada “Changes” (a música biográfica de Manuela Moura Guedes), mas a combustão química revela-se quando o aleatório escolhe “War Pigs”.
O jogo passa a ser outro, quase uma experiência Sabbathiana. A variedade de armas das minhocas combina perfeitamente com a dinâmica de um colosso que tem riffs e variedade rítmica suficientes para alimentar um disco inteiro, ainda que os Black Sabbath prefiram esbanjá-los em oito minutos. Quando a sincronização é perfeita, sucedem-se maravilhas como uma granada (ou uma “holy granade”) ao som do remate “Oh Lord yeah!” ou um massacre da equipa adversária acompanhado pelo incrível solo de Iommi. Existe alguma subversão e paradoxo no que une as duas coisas: uma crítica dedicada aos fomentadores da guerra favorece o gozo de um jogo que frisa o que há de mais divertido na guerra (ridicularizando-a também).
Depois disto, foi mais fácil chegar a um velhinho jogo obscuro que era merecedor de ter “War Pigs” como banda-sonora, muito antes de existir o “Worms” ou do meu despertar para os Sabbath (pela tradicional via de “Paranoid”). “Psycho Pigs UXB” fazia furor no ZX Spectrum (não garanto que a imagem corresponda a essa versão), apesar de uma jogabilidade confusa para putos de 10 anos: uma série de porcos, dispostos num só ecrã, trocam entre si bombas em contagem decrescente. Eles, sim, eram porcos de guerra. São enterrados, tal como as minhocas, num “Electric Funeral”. Vezes sem conta, “War Pigs” dos Black Sabbath ressuscita nos mais diversos contextos. Assim são os clássicos.