A inversão do concerto
Vi, há dias, o concerto de Anna Calvi. Pela minha curta memória, o último concerto que vi em recinto fechado até esta segunda-feira foi Neurosis, em Barcelona. A grande diferença, além das óbvias e que não entram neste jogo, estava mesmo no público.
Anna Calvi, detentora de uma voz impecável, cheia de força e arrepiante, fez uso das suas qualidades para dar o melhor concerto possível – e nisto entra o silêncio, imposto pelas dinâmicas da música para evidenciar toda a amplitude vocal da britânica. O silêncio, em Barcelona, é algo de que nem lembro. Falava-se, falava-se, murmurava-se, pedia-se músicas… Anna Calvi beneficiou do oposto, e foi uma actuação perfeita – por parte da audiência.
No que toca a concertos, performances, nós (quem quer que sejamos, mas é uma qualidade transversal aos concertos que os frequentadores deste blogue reconhecem, estou certo disso) temos uma oferta que não é comum: uma vontade genuína em ouvir tudo com a maior atenção e em permitir o maior impacto da actuação a que estamos a assistir. O nosso produto é o silêncio e o respeito. Quem é que, estando presente nos concertos de Scott Kelly, não se lembra do quão emocionado ele ficou com isso, por exemplo? Eu lembro-me do sorriso rasgado da tímida Anna Calvi no final do concerto e estou certo de que ela não podia ter arrancado com a digressão de melhor forma.
Da mesma forma que nós escolhemos ir ver concertos dependendo das salas, das bandas e por aí fora, quando é que as bandas e os artistas começam a escolher o “nosso” cantinho graças a estas características?