Tom Zé – Grande Liquidação (1968, Rozenblit)

Tom Zé é sem dúvida um dos meus músicos preferidos e sei perfeitamente que qualquer tentativa de escrever sobre o seu génio pode facilmente não lhe fazer justiça. Para facilitar a ruminação no assunto, escolhi para este texto o primeiro disco homónimo de 1968, reeditado também como “Grande Liquidação”.
Tom Zé é um mestre da palavra, ler os textos das suas músicas é seguir pela história do Brasil, pelo humor, pela crítica social, pela ironia e sobretudo pela originalidade. Para acompanhar este disco, ele escreveu: “Somos um povo infeliz, bombardeado pela felicidade.” “Eu sou a fúria quatrocentona de uma decadência perfumada com boas maneiras e não quero amarrar minha obra num passado de laço de fita com boemias seresteiras.” Desamarra essa feita no final da década de 60, longe ainda estavam os trabalhos mais experimentais de Tom Zé, mas a necessidade de romper com uma herança opressora, levou a que ele e muitos artistas sentissem a urgência/liberdade para  “colorir” e experimentar ao máximo, transformando as tradições brasileiras num movimento que trouxe clássicos como o primeiro disco de Caetano Veloso, lançado no mesmo ano que “Grande Liquidação”, o primeiro disco dos Mutantes, a colectânea “Tropicália ou Panis et Circencis”, a bomba no feminino chamada Gal Costa, o surpreendente Jorge Ben, Os Novos Baianos, entre muitos outros. Neste trabalho Tom Zé não se deixa ficar rogado e atira-se à bossa nova, ao forro, à música sertaneja, ao funk, à música psicadélica e fica-se a rir perante composições que ainda hoje soam transgressivas e inovadoras. O Tropicalismo buscava o exotismo, a libertação artística e humana mesmo que alimentada por alguns ácidos.  A par de alguns nomes como os já referidos neste texto, Tom Zé fez várias obras primas, ganhando por isso o estatuto de um dos músicos importantes da história da música.