Houve um período da minha vida, e um significativo a vários níveis, que foi passado em Pombal.
Os meus pais mudaram-se de Lisboa para lá quando eu tinha 9 anos, basicamente porque lhes ofereceram empregos bem mais interessantes do que aqueles que eles tinham e assim, lá vivi até aos 17, altura pela qual me mudei de volta para Lisboa.
A vida em Pombal era monótona. Talvez agrade a alguns o encanto bucólico das pequenas cidades, mas a mim não me fascinou por aí além tirando um ou outro detalhes da Serra do Sicó, o castelo(zito) templário da cidade e uma ermida em Anços.
Quando me tornei adolescente vestia-me de preto e tinha um corte de cabelo manhoso. Dava-me com os amigos (mais velhos) do meu irmão e fui iniciado nos mistérios dos Bauhaus e Joy Division, dos Death in June e dos Laibach. Quando dei por mim, andava a encomendar albuns de Neubauten e Young Gods e imensas coisas dos catálogos da Bimotor e da Messerschmitt e a minha vida nunca mais foi a mesma…
Então estava eu na loja de discos da terra a ver as novidades e um disco saltou-me à vista. “Wow, que cena bizarra meu!” pensei eu enquanto olhava para a capa do Simple Man do Klaus Nomi.
Pedi para ouvir e foi amor à primeira audição… apesar de aquilo ser muito datável na cena New Wave e tudo o mais, nunca tinha ouvido nada assim e nunca mais ouvi para ser franco.
O Klaus Nomi é único.
O disco era em formato CD, uma coisa que não existia ainda em todos os lares portugueses e também não no meu. Costumava ouvi-lo em casa do meu amigo Jaime e ficava sempre maravilhado com aquilo – ainda hoje fico.
A fusão que o Klaus Nomi fez da New Wave com a sua visão operática é algo de absolutamente inimitável. A voz do Klaus Nomi, de cabaret a ópera em 5 segundos, é fascinante, bem como todo o seu imaginário de extraterrestre que veio para salvar a Humanidade.
O senhor é alemão de nascença, mas as coisas antes da queda do muro eram complicadas lá para a terra dele e ele emigrou para os estados unidos, para Nova Iorque.
Nos primeiros tempos foi vivendo de biscates e um no qual era muito dotado era o da doçaria. Ele fazia bolos em troca de favores que pedia aos vizinhos. Um dos bolos que ele fazia era uma tarte de lima que era, ao que parece, muito boa e relativamente simples de fazer.
Quando me chamaram para o primeiro “gig” no Nakité (o restaurante onde trabalho), pediram-me para fazer um menú para o dia dos namorados que incluísse uma sobremesa, e assim surgiram os Nomis de Lima, numa genuína e sentida homenagem ao cavalheiro.
Na verdade a receita original do Klaus não é vegan, portanto o meu recheio é diferente, mantendo a base da tarte fiel à receita original, com a margarina de soja a substituir a manteiga.
Base
– 1 pacote de bolachas digestivas (simples, vegans)
– 1/3 pacote de margarina de soja
Recheio
1/4 copo de sumo de lima
2 1/2 copo de leite de soja (arroz, etc)
1 copo de açúcar mascavado
5 colheres de sopa de amido de milho (farinha maizena, que não recomendo verdadeiramente porque é da Unilever, que testa em animais)
Precisamos também de formas e de um pouco de doce de cereja.
Então começamos por derreter a margarina num tacho e desfazer as bolachas, manual ou mecânicamente, até se obterem migalhas relativamente grossas. Algumas bolachas menos partidas não fazem muito mal.
Numa taça colocam-se as bolachas e verte-se a margarina derretida por cima. Mistura-se tudo muito bem até todas as bolachas estarem embebidas em margarina (com as mãos é melhor, mas podem usar uma colher). Reservamos.

Preparamos as formas, colocando um pouco de doce de cereja no fundo de cada uma.
No tacho onde derretemos a manteiga, e não é por nada, é mesmo para não sujar muito louça, colocamos o amido de milho e o açúcar e misturamos com uma colher (aqui sim, sem as mãos), em seguida adicionamos o sumo de lima e misturamos muito bem até não restar nenhum grumo.
Depois adicionamos o leite e colocamos ao lume, mexendo constantemente.
Por acção mágica do amido de milho a mistura vai começar a engrossar; quando tiver uma consistência similar a creme retira-se do lume e verte-se sobre cada uma das formas, reservando uma pequena margem para aplicar a base.
Para a base deve-se aplicar uma quantidade generosa qb de migalhas com margarina, prensando levemente com a parte de trás de uma colher.
Deixamos arrefecer e pomos no frigorífico umas horas. Desenformamos e comemos.
Nesta actuação, a sua saúde estava já bastante degenerada (notam-se algumas falhas na sua voz) e pouco tempo depois veio a falecer vitimado por SIDA embora na altura não soubessem exactamente isso; os médicos constataram que o seu sistema imunitário colapsou e que tinha desenvolvido um tipo de cancro da pele raro, o Sarcoma da Kaposi. O “Cancro dos Gays” assustava toda a gente e assim o icónico Klaus morreu sozinho no hospital no dia 6 de Agosto de 1983.