O meu festival de verão

Antes que fique sem hipotese de postar isto. Aqui fica um singelo relato dos dias passados em Guadalest.

A viagem afigurava-se complicada e não foi pelo conhecimento prévio da dificuldade que o deixou de ser.

De comboio até Mangualde. 10 horas de carro até Alicante. Perceber que Guadalest não era assim tão perto da cidade espanhola. Percorrer Kms pelos montes em infindáveis curvas e contracurvas. Calor, muito calor… Todo este esforço para perceber que os concertos iriam acontecer num espécie de campo de futebol cinco á beira estrada…

Depois do choque inicial, passa-se o dia a suar, a explorar a pequena aldeia/vila, a aproveitar o belo do lago e a beber cerveja claro.


O calor insuportável, de directa em cima e a beber cerveja desde manhã cedo levaram á pouca paciência para as bandas espanholas levaram a um blackout total ainda quando decorria o concerto da segunda banda do dia… Quando acordei já os Colour Haze se atiravam á “Love”, dando assim ínicio ao encore… Definitivamente o ponto baixo da entourage ao sul da península.


Depois de uma bela noite de sono ao relento e sob o chão rochoso do sul de Espanha, o segundo dia afigurava-se mais risonho.

Saltando a parte do sol, da cerveja e das tapas e totalmente desperto para não se repetir o desastre da noite anterior, o dia de concertos inicia-se com os CAUSA SUI, dinamarqueses integrantes da mui respeitável Elektrohash e meninos do orgulho da editora alemã a julgar pelo olhar embevecido do patrãoStefan Koglek durante todo o concerto.

Dificilmente se podia pedir um final de tarde mais perfeito, o som instrumental dos Causa Sui encontra eco nos companheiros de selo Colour Haze com um certo sabor á lá Kyuss apimentado por uma sonoridade motorika swingante e a espaços jazzística a fazer jus ás excelentes “Summer Sessions” (Vol.1, 2 e 3).


Seguiram-se aqueles que são considerados os maiorais da cena psych/stoner espanhola, os VIAJE A 800. Confesso que em disco não me aquecem nem arrefecem mas em concerto a banda afirma-se como uma autêntica locomotiva psicadélica e inspira os primeiros movimentos de copo de cerveja erguida ao céu. O idioma é que ainda me faz alguma comichão…


De seguida, um dos concertos mais esperados do festival, WITCHCRAFT!

Para quem ainda não sabe, os Sabbath (circa 1969-1972) renasceram na Suécia e ficaram mais loiros. Apostados em promover o álbum mais recente “The Alchemist”, não deixaram de dar um salto aos dois álbuns anteriores transformando Guadalest num cenário de prazer e diversão pura. Dedicam uma música á Rise Above e ao patrão Lee Dorrian que incrivelmente era o gajo que está a curtir um milhão ao meu lado. Notar que no final da noite os pobres nórdicos só gritavam por Portugal (o saloismo tuga ás vezes fala mais alto).



Com a tarefa ingrata de substituir os The Heads chegam os ASTRA, colectivo que a par dos Earthless e de outra banda (da qual não me recordo o nome) formam a cena psicadélica de San Diego (Mike Eginton dixit). Os ASTRA presentearam todos os presentes com uma intensa sessão ritualística entre ecos de Pink Floyd e do Kraut de Shulze e companhia.

Apostados em promover o etéreo “The Weirding”, os ASTRA reduziram para metade as rotações de Guadalest e, com “The river under” ofereceram-me a música do verão de 2009. O som progressivo da banda acabou por funcionar como ponte perfeita entre Witchcraft e Earthless.


Depois de ASTRA, Guadalest entrou num universo paralelo, os EARTHLESS preparavam-se para entrar em palco e a ansiedade duplicava ao segundo…

EARTHLESS ao vivo vai mais além do conceito de concerto e assume-se como celebração total e intransmissível. Cinco músicas bastaram para quase duas horas de diversão poucas vezes anteriormente sentida. “Godspeed”, “From the Ages”, “Sonic Prayer”, a maravilhosa cover de “Cherry Red” dos ausentes Groundhogs e o final apoteótico com “Jull” revelaram uma banda no topo da sua forma e deixam salivar por mais, muito mais.


Apesar de todos os cancelamentos, de ser um autêntico cabo das tormentas para chegar a Guadalest, do facto do festival não acontecer no castelo, do calor insuportável e do maldito café espanhol. O festival Castel de Guadalest saldou-se positivamente e deixou muitas e boas recordações. Resta saber que coelhos vai a organização sacar da cartola, da minha parte basta que tragam aqueles que cancelaram este ano e acrescentar Electric Wizard e The Sword para valer mais uma roadtrip ao sul de Espanha.