O mundo é feito de tendências. No mundo da arte, muito se discute a intemporalidade de uma peça artística vs. a sua clara referência temporal. Faria sentido hoje existirem outros Nirvana? Talvez não. Mas dada a influência que tiveram na cena grunge, intemporal, tivemos dezenas de outras bandas nos 90’s que aproveitaram a tendência e se colaram ao género, morrendo quando o mesmo saturou. Aconteceu com o grunge, o britpop, o prog dos 70’s, o post-punk dos 80’s, com o nu-metal, com o metalcore, com o post-rock/metal, está a acontecer com o chillwave e com o sludge e por aí fora. Daqui resulta que de todos os géneros, sobrevivem os pioneiros.

Também notamos que, na discussão sobre a originalidade de cada género, o chamado revival é algo que acontece frequentemente, principalmente desde que os Strokes se lembraram de ir ressuscitar o garage rock, os sapatos bicudos e as calças justas. Mas esta é uma questão que não se prende só com a chamada música indie, é algo transversal a todos os géneros musicais. Que dizer deste revival do thrash dos 80’s, com putos a ostentar jaquetas cheias de patches de Voivod, Kreator ou Annihilator? Ou do rock psicadélico, com os nossos queridos Black Bombaim à cabeça cá em Portugal? Ora, eu lembro-me quando comecei com a cena das bandas aí há uns 15 anos atrás, e tudo aquilo que nós queriamos fazer era ser originais. Se bem que hoje as bandas queiram o mesmo (acho que não há nenhum artista que não sonhe com isso), acho que o que mudou nas novas gerações é a de que eles não se preocupam tanto em ser totalmente originais, mas mais com o facto de honrarem as suas influências e fazê-lo da forma mais genuina que possam. Abandonamos nas entrevistas o “não nos conseguimos inserir em nenhum rótulo” para um “estas são claramente as nossas influências, tocamos este género e temos muito orgulho nisso”. Para mim, é de louvar.

Acontece que hoje eu olho à minha volta e não consigo encontrar a tal “next big thing”, a tal tendência que corra nas veias da sociedade de forma tão evidente que todos estejamos a tentar fazer algo que lhe corresponda, ou pelo menos a ter uma tshirt da banda para ir ao bar da cena. De uma forma geral, o que me parece é que hoje as tendências muitas vezes nem chegam a ter um ano de duração dada a velocidade com que são divulgadas, colhidas, espremidas e depois deitadas fora. Acho que este é um fenómeno novo, porque nem sequer temos tempo para apreciar uma tendência como deve ser, e quando estamos a sair dessa tendência para outra, já a outra está no ponto de saturação. Eu, por exemplo, tenho-me virado muito para os oldies, simplesmente porque não tenho capacidade para acompanhar 1/10 dos novos lançamentos que pululam no mercado musical, estando ainda, por exemplo, a ouvir muito do que se fez no ano passado. Sim, tenho quilos de gigas de música deste ano, mas muito ainda não consegui ouvir.

Para mim, isto é frustrante. Ou eu já estou a ficar cota e a storage do meu cérebro já não dá para mais, ou então é mesmo uma avalanche incontrolável de nova informação que nenhum dos nossos cérebros consegue assimilar. Porque para mim não é importante ouvir um cd 2 ou 3 vezes e não lhe tocar mais, eu preciso de ouvir o mesmo disco durante semanas (meses até, como é o caso do novo de Grails, por exemplo) para poder saborear tudo o que a banda me oferece.

E quanto a vossemecês, acham que há efetivamente uma next big thing hoje? Qual? E como vêm a música de hoje e este fenómeno de ejaculação precoce das tendências musicais?